sexta-feira, 26 de março de 2010

Poema dedicado a Inês de Castro

Antes do fim do mundo, despertar,
Sem D. Pedro sentir,
E dizer às donzelas que o luar
E o aceno do amado que há-de vir...

E mostrar-lhes que o amor contrariado
Triunfa até da própria sepultura:
O amante, mais terno e apaixonado,
Ergue a noiva caída à sua altura.

E pedir-lhes, depois fidelidade humana
Ao mito do poeta, à linda Inês...
À eterna Julieta castelhana
Do Romeu português.

Poema de Miguel Torga







Soneto de Inês

Dos olhos corre a água do Mondego

os cabelos parecem os choupais

Inês! Inês! Rainha sem sossego

dum rei que por amor não pode mais.

Amor imenso que também é cego

amor que torna os homens imortais.

Inês! Inês! Distância a que não chego

morta tão cedo por viver demais.

Os teus gestos são verdes

os teus braços

são gaivotas poisadas no regaço

dum mar azul turquesa intemporal.

As andorinhas seguem os teus passos

e tu morrendo com os olhos baços

Inês! Inês! Inês de Portugal.


Poema de Ary dos Santos



Quinta das Lágrimas

A Quinta das Lágrimas é uma quinta situada na margem esquerda do Mondego, na freguesia de Santa Clara, em Coimbra, Portugal. A quinta ocupa uma área de 18,3 hectares, ao redor de um palácio do século XIX dedicado actualmente a hotelaria de luxo.

No exuberante jardim encontram-se duas fontes históricas, a Fonte dos Amores e a Fonte das Lágrimas. A quinta e as fontes são célebres por terem sido cenário dos amores proibidos do príncipe D. Pedro (futuro Pedro I de Portugal) e da fidalga Inês de Castro, tema de inúmeras obras de arte ao longo dos séculos.

Episódio de Dona Inês de Castro - (Os Lusíadas, Canto III, 118 a 135)

118
Passada esta tão próspera vitória,
Tornado Afonso à Lusitana Terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste e dino da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que despois de ser morta foi Rainha.


119
Tu, só tu, puro amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano



120
Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes insinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.


121
Do teu Príncipe ali te respondiam
As lembranças que na alma lhe moravam,
Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando dos teus fernosos se apartavam;
De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em pensamentos que voavam;
E quanto, enfim, cuidava e quanto via
Eram tudo memórias de alegria.


122
De outras belas senhoras e Princesas
Os desejados tálamos enjeita,
Que tudo, enfim, tu, puro amor, desprezas,
Quando um gesto suave te sujeita.
Vendo estas namoradas estranhezas,
O velho pai sesudo, que respeita
O murmurar do povo e a fantasia
Do filho, que casar-se não queria,


123
Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Crendo co sangue só da morte ladina
Matar do firme amor o fogo aceso.
Que furor consentiu que a espada fina,
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor Mauro, fosse alevantada
Contra hûa fraca dama delicada?


124
Traziam-na os horríficos algozes
Ante o Rei, já movido a piedade;
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade.
Ela, com tristes e piedosas vozes,
Saídas só da mágoa e saudade
Do seu Príncipe e filhos, que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava,


125
Pera o céu cristalino alevantando,
Com lágrimas, os olhos piedosos
(Os olhos, porque as mãos lhe estava atando
Um dos duros ministros rigorosos);
E despois, nos mininos atentando,
Que tão queridos tinha e tão mimosos,
Cuja orfindade como mãe temia,
Pera o avô cruel assi dizia:


126
(Se já nas brutas feras, cuja mente
Natura fez cruel de nascimento,
E nas aves agrestes, que somente
Nas rapinas aéreas tem o intento,
Com pequenas crianças viu a gente
Terem tão piedoso sentimento
Como co a mãe de Nino já mostraram,
E cos irmãos que Roma edificaram:


127
ó tu, que tens de humano o gesto e o peito
(Se de humano é matar hûa donzela,
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la),
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois te não move a culpa que não tinha.


128
E se, vencendo a Maura resistência,
A morte sabes dar com fogo e ferro,
Sabe também dar vida, com clemência,
A quem peja perdê-la não fez erro.
Mas, se to assi merece esta inocência,
Põe-me em perpétuo e mísero desterro,
Na Cítia fria ou lá na Líbia ardente,
Onde em lágrimas viva eternamente.


129
Põe-me onde se use toda a feridade,
Entre leões e tigres, e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei.
Ali, co amor intrínseco e vontade
Naquele por quem mouro, criarei
Estas relíquias suas que aqui viste,
Que refrigério sejam da mãe triste.)


130
Queria perdoar-lhe o Rei benino,
Movido das palavras que o magoam;
Mas o pertinaz povo e seu destino
(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.
Arrancam das espadas de aço fino
Os que por bom tal feito ali apregoam.
Contra hûa dama, ó peitos carniceiros,
Feros vos amostrais e cavaleiros?


131
Qual contra a linda moça Polycena,
Consolação extrema da mãe velha,
Porque a sombra de Aquiles a condena,
Co ferro o duro Pirro se aparelha;
Mas ela, os olhos, com que o ar serena
(Bem como paciente e mansa ovelha),
Na mísera mãe postos, que endoudece,
Ao duro sacrifício se oferece:


132
Tais contra Inês os brutos matadores,
No colo de alabastro, que sustinha
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que despois a fez Rainha,
As espadas banhando e as brancas flores,
Que ela dos olhos seus regadas tinha,
Se encarniçavam, fervidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos.


133
Bem puderas, ó Sol, da vista destes,
Teus raios apartar aquele dia,
Como da seva mesa de Tiestes,
Quando os filhos por mão de Atreu comia !
Vós, ó côncavos vales, que pudestes
A voz extrema ouvir da boca fria,
O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,
Por muito grande espaço repetistes.


134
Assi como a bonina, que cortada
Antes do tempo foi, cândida e bela,
Sendo das mãos lacivas maltratada
Da minina que a trouxe na capela,
O cheiro traz perdido e a cor murchada:
Tal está, morta, a pálida donzela,
Secas do rosto as rosas e perdida
A branca e viva cor, co a doce vida.


135
As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram.
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água e o nome Amores.




D. Pedro I - Auto da Barca do Inferno

Tanto que os Quatro Cavaleiros se embarcaram, vem D. Pedro, dirigindo-se à barca da Glória, onde D. Inês se encontrava.

D. Pedro – Hou da barca!
Para onde vais tão despejado?

Anjo – Por que pensas que
nesta barca embarcarás?

D. Pedro – Porque amei, amo e amarei
a mulher que aqui embarcou!

Anjo – Oh! Esta outra,…
Flor rara que a ti doou seu coração.
Ouvindo este diálogo, dirigiu-se o Diabo, ao batel do Paraíso, e diz:

Diabo – Ora, teu bondoso coração ardente!
Jamais tanto como aquela barca onde entrarás.
Nunca porás teu pé,
onde caminhou D. Inês.
Traíste tua esposa,
minha barca é a tua morte!

D. Pedro – Minha morte seria
se lá donde vim
continuasse iludido com o anel
já há muito perdido.

Aproximou-se o Diabo de D. Inês, como se seu coração parado quisesse arrancar, e olhando friamente para D. Pedro, diz desta maneira:

Diabo – Tua amada será minha
preciso da sua frescura
para apagar este fogo
e também minha amargura.

D. Pedro – Só por cima do meu cadáver!

Diabo – Morto estás tu
E neste rio, tua coroa não flutua;
apenas se afunda!

D. Pedro – Esta madeixa preciosa,
que comigo chegou aqui,
se a ti for oferecida
conseguirei entrar ali?

Diabo – Mas que bela madeixa de ouro
para na fogueira beijar;
Passa-ma cá, e lá acabarás!

D. Pedro – Eu ta dou de bom grado
já que um lugar
nessa barca ardente
me garantes por essa preciosidade.

Diabo – Passa-me esse bem
e com ele entrarás...

Com a madeixa na mão, o Diabo zarpa o seu batel e deixa D. Pedro no cais.

D. Pedro – Malvado Satanás!
Ficaste com o amor de meu amor
e minha recordação!

Diabo – Que esperavas?!
Tua Inês no Paraíso,
seu amor no meu coração,
não há lugar para ti
na barca da maldição!

Sem poder embarcar no batel do demo, D. Pedro dirige-se à barca da Glória.

Anjo – Porque voltas cá?

D. Pedro – O Maldito enganou-me,
roubou o que lá me fora doado,
perdi o coração da bela Inês,
a minha recordação
e nisto não fui embarcado.

Anjo – Para aqui entrar não serás convidado!
Pecaste, em vida,
amaste outra que não a tua.
Pecaste depois de morto,
ao tentar subornar o Outro.
Não tens lugar aqui.
Não há perdão para ti!
Sai já do meu batel,
fica com quem em nenhum lado tem lugar.
Pesem a vida depois da morte.
A eternidade é vossa...

Assim D. Pedro ficou a espiar os seus pecados no cais de embarque, aguardando uma próxima viagem.

Se no século XIV existisse livo de reclamações:

D. Constança Manuel
Rua do Castelo, nº 13
3013 Reino Misterioso
Reino Misterioso, 13 de Março de 1343

Assunto: Infidelidade de D. Pedro

Ilustríssimo D. Afonso IV:

Venho por este meio solicitar a intervenção de Vossa Excelência para pôr fim à relação que une D. Pedro a D. Inês de Castro.
D. Pedro, meu marido desde vinte e quatro de Agosto 1339, tem nestes últimos quatro anos mostrado um excessivo interesse e afecto por Inês de Castro, minha aia e confidente. Por esse motivo, tenho vindo a ser cada vez mais excluída de sua vida.
Creio que Vossa Excelência também não aprova esta relação nem gosta dos comentários feitos na corte. Minha aia, a quem foi concedida a honra de ser madrinha de meu filho, de seu nome Luís, que faleceu com apenas uma semana de vida, não é indiferente ao afecto demonstrado por meu marido. Assim, se percebe a falsidade e imoralidade da pessoa que seu filho diz amar.
Apesar do seu comportamento infiel, D. Pedro tem perdão, visto que tem muito com que se preocupar neste reino, pelo que qualquer atitude que Vossa Excelência decida tomar deve recair, exclusivamente, sobre D. Inês.
Assim, enquanto legítima esposa do herdeiro da coroa deste Reino, solicito que acabe com o relacionamento entre seu filho, D. Pedro e minha aia Inês, ou que me indemnize no montante de cinco centavos para pagar a minha mágoa.

Confiando que o problema agora exposto irá merecer a Vossa melhor atenção, subscrevo-me

Atenciosamente

D. Constança Manuel





Carta de Reclamação de D. Pedro I, depois de sua morte



D. Pedro I
Rua do Cais dos Julgados Não Aceites, nº552
1317 Porto de Lúcifer


Porto de Lúcifer, 19 de Janeiro de 1367


Assunto: Solidão no cais de embarque
Ilustríssimo Sr. Belzebu,


Venho por este meio, informar que sinto um enorme isolamento e desprezo, por viver à parte de tudo e de todos.

Um dos poucos vizinhos que tenho, o Sr. Judeu, passa os dias a praticar rituais, os quais sempre fui e continuo a ser contra.

Os outros vizinhos que tenho, Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves, são dois dos assassinos de D. Inês. Estes meus eternos inimigos mais valia que aqui não morassem.

Deste modo, era preferível que morasse aí, no Antro do Inferno, do aqui.

A minha rua é a de quem não tem lugar, e eu, que em vida exerci uma justiça exemplar, sem discriminações, julgando de igual modo nobres e plebeus, não mereço permanecer neste local sem ninguém.

Perante tal facto, sinto-me lesado, prejudicado e injustiçado na minha condição de Rei “ O Justiceiro” e, por isso, pretendo que este problema se resolva quanto antes.

Proponho que seja recompensado justamente e de acordo com a minha condição social. Fui o oitavo rei de Portugal. Em vida, mereci os cognomes de “O Justiceiro” (também “O Cruel”, “O Cru” ou “O Vingativo”), pela energia posta em vingar o assassínio de Inês de Castro, ou de “O-Até-ao-Fim-do-Mundo-Apaixonado”, pela afeição que dedique àquela dama galega que na barca da Glória irá partir até à eternidade…

Assim, como tenho a consciência que na Cidade do Paraíso não entrarei, não pelo que fiz em vida, mas sim pelo que fiz depois da morte, antes de partirmos, quero embarcar na sua morada, estando disposto a acarretar todos os sacrifícios do Limoeiro, como castigo recompensador.

A solidão é a maior paga pelos pecados cometidos, mas eu, sendo rei, tenho o total direito de escolher que aí quero permanecer até à eternidade.

Esperando o melhor da vossa compreensão para a resolução do problema exposto, subscrevo-me

Atentamente

D. Pedro I

Amor...


Amor louco,

Trépido e inseguro,

Uniu Pedro a Inês,

Numa relação de susto e receio.

Uma morte imprevista,

Que merecia vingança.

Saudade e desespero não estorvavam

Neste amor tão óbvio

Como o azul dos céus,

Agitado como o mar.

Teve que ser quebrado

Por uma força maior

Como a recordação

De um espelho partido.

As cinzas deste amor,

Ainda ardem calorosamente.

A morte destrói esperança,

Destrói felicidade,

Destrói expectativa,

Destrói desejos.

Nunca o amor eterno,

Amor louco e óbvio.

Essa morte trágica e violenta,

Da jovem e inocente Inês,

Que apenas cometeu,

O crime de amar e ser amada.

Nem lembra à mais odiosa,

À mais terrível e insensível pessoa.

Para a contrariar,

O crime de Pedro e Inês será

Para sempre amar.

Se o tempo voltasse atrás

O vosso amor triunfaria
Se o tempo voltasse
Voltasse àquele tempo
Em que o vosso amor queria
Triunfar
Só que não conseguia!

Eu diria
A quem me quisesse ouvir
Ou até mesmo,
A quem me ignorasse
A quem os olhos fechasse
E não quisesse ver
O vosso triste olhar sentido
Que caía de desespero,
Da mágoa e da saudade,
Que queria não ter morrido!

Eu gritaria a todo o Mundo,
Mundo de ouro que se perderá
Se as estrelas não ouvissem
As gotas de lágrimas
Lágrimas doces
Minhas lágrimas!
Nelas pintaria poemas
Poemas para todo o Mundo ver,
E a dizer
Para ninguém invejar
E acreditar que,
Aquele amor de amar
Poderia navegar pelo mar
Se toda a gente que me ouvisse,
Tentasse perceber o que disse
Só em pensamentos pelo ar!!

Poema vindo do céu dedicado a D. Pedro

Este poema caiu do céu, ficou preso num arco-íris. O vento levou-o para longe e só hoje foi encontrado por D. Pedro, à beira de uma fonte de águas translúcidas e mágicas, parecendo as lágrimas que Dª. Inês chorou, não parando como um rio, quando morreu a sangue frio.

Quando este poema as tuas mãos beijar
quero que o leias com atenção
foi escrito com as gélidas minhas lágrimas
que me escorreram do coração.

Foi escrito com o meu olhar
que de saudades é feito
saudades do teu amor
que corre em rio sem leito.

Ao cair duma noite triste
com tão dura minha morte
choraram nossos três filhos
os horrores de minha sorte.

Choraram ao me verem adormecer
sobre rosas vermelhas de sangue
que naquela noite sem fim
não quiseram mais florescer!

Na triste noite deixei
nossos filhos a chorar
arrancaram-mos do peito
que não pára de sangrar.

Desculpa não me ter despedido
mas o nosso amor assim foi traçado
deu voltas como um laço sem nó
que no fim foi desmanchado!

Sussurros do vento me dizem
que até vós, irei chegar
livre dos ódios do mundo
na Terra irei poisar.

Herói meu, amado eterno
nunca me vou esquecer
da luta do nosso amor
que eterno há-de ser!!!

De mãos dadas com as estrelas
num altar em teu louvor
de Princesa a Rainha
coroaste o meu amor.

Mais não sofras por mim
não chores mais este fado
a força do nosso amor
trazer-me-á sempre a teu lado!!!

Uma página solta

Página imaginária do diário de D. Inês escrita no dia anterior da trágica separação de seus quatro filhos e do seu eterno amor D. Pedro.

Esta era a página final do seu diário, estava um pouco rasgada e tinha uma espada desenhada como se tivesse sido esta a rasgar a folha. Também tinha uma lágrima de sangue desenhada e uma rosa a cair de um arco-íris.

Coimbra, 6 de Janeiro de 1355


Graças à injusta inveja das pessoas, o meu amor com D. Pedro não tem estado em descanso.

Mas hoje, foi um dia especial. Tentei esquecer tudo o que tem acontecido nestes últimos tempos, pois apesar de ter sido num sonho, o meu herói provou-me mais uma vez, de uma maneira invulgar mas «mágica» que eu era a única mulher com quem ele quis, quer e quererá passar a sua vida. Fez brilhar a estrela que sempre esteve dentro do meu diário, que brilhará eternamente, mesmo quando este diário acabar.

Neste sonho com muita irrealidade real, Pedro acordou-me enquanto dormira em sono profundo, sobre um sonho no meio das rosas, dizendo-me que o dia que espreitava pela janela iria ser o mais importante de minha vida.

Levantou-me ao ar, como se eu fosse uma rosa frágil e branca. Depois beijou-me, como se os meus lábios fossem doces como pudim, de seguida voou pela janela comigo nos braços, como se me quisesse segurar para eu não cair nos braços de D. Afonso IV, que estava lá em baixo, e…dei por mim sentada num arco-íris com mil e uma cores. Essas eram as cores do nosso amor que não só neste sonho, como também na realidade, brilham nos nossos olhos.

Não percebi porque é que acordei com a sensação de que tinha caído do arco-íris e enquanto caía, deixei de ver o meu amado e as mil e uma cores; simplesmente só via vermelho.

Assim que acordei tentei apagar da minha memória esta última parte do sonho. Mas como a tinta resistia, tentei pensar que o «vermelho» significava amor e não o sangue de eu estar quase a cair.

Mesmo que caia, nunca te vou esquecer, D. Pedro!...

Não posso levar este diário comigo, pois ao cair do arco-íris, ele desfolhar-se-á e eu não quero que o nosso amor voe; quero que ele permaneça muito tempo intacto.

Espero que encontres este diário, e quando o encontrares guarda contigo esta última página.

terça-feira, 16 de março de 2010

Amor sofrido

Cumprindo o seu dever de Infante,

D. Pedro casou com D. Constança,

Mas, foi “sol de pouca dura”

Pois logo conheceu aquela,

Por quem o coração bateu mais.

Assim nasceu um grande amor,

Como nunca fora visto,

Um amor profundo e ardente

Que causou angústia a seus pais.

Todos na corte recearam

Uma influência nefasta

D. Pedro resistiu sempre

Venceu ordens e distância

Defendendo com furor

Aquela nobre paixão

Nem a morte os separou,

E contra ela o Infante lutou.

Ganhou o Trono e o Reino

Vingando então o seu amor

D. Inês tornou-se rainha

Sendo o túmulo seu castelo.

Outra rainha surgiu,

Mas não apagou da memória

Aquele amor tão sofrido.