sexta-feira, 26 de março de 2010

Carta de Reclamação de D. Pedro I, depois de sua morte



D. Pedro I
Rua do Cais dos Julgados Não Aceites, nº552
1317 Porto de Lúcifer


Porto de Lúcifer, 19 de Janeiro de 1367


Assunto: Solidão no cais de embarque
Ilustríssimo Sr. Belzebu,


Venho por este meio, informar que sinto um enorme isolamento e desprezo, por viver à parte de tudo e de todos.

Um dos poucos vizinhos que tenho, o Sr. Judeu, passa os dias a praticar rituais, os quais sempre fui e continuo a ser contra.

Os outros vizinhos que tenho, Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves, são dois dos assassinos de D. Inês. Estes meus eternos inimigos mais valia que aqui não morassem.

Deste modo, era preferível que morasse aí, no Antro do Inferno, do aqui.

A minha rua é a de quem não tem lugar, e eu, que em vida exerci uma justiça exemplar, sem discriminações, julgando de igual modo nobres e plebeus, não mereço permanecer neste local sem ninguém.

Perante tal facto, sinto-me lesado, prejudicado e injustiçado na minha condição de Rei “ O Justiceiro” e, por isso, pretendo que este problema se resolva quanto antes.

Proponho que seja recompensado justamente e de acordo com a minha condição social. Fui o oitavo rei de Portugal. Em vida, mereci os cognomes de “O Justiceiro” (também “O Cruel”, “O Cru” ou “O Vingativo”), pela energia posta em vingar o assassínio de Inês de Castro, ou de “O-Até-ao-Fim-do-Mundo-Apaixonado”, pela afeição que dedique àquela dama galega que na barca da Glória irá partir até à eternidade…

Assim, como tenho a consciência que na Cidade do Paraíso não entrarei, não pelo que fiz em vida, mas sim pelo que fiz depois da morte, antes de partirmos, quero embarcar na sua morada, estando disposto a acarretar todos os sacrifícios do Limoeiro, como castigo recompensador.

A solidão é a maior paga pelos pecados cometidos, mas eu, sendo rei, tenho o total direito de escolher que aí quero permanecer até à eternidade.

Esperando o melhor da vossa compreensão para a resolução do problema exposto, subscrevo-me

Atentamente

D. Pedro I

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