Tanto que os Quatro Cavaleiros se embarcaram, vem D. Pedro, dirigindo-se à barca da Glória, onde D. Inês se encontrava.
D. Pedro – Hou da barca!
Para onde vais tão despejado?
Para onde vais tão despejado?
Anjo – Por que pensas que
nesta barca embarcarás?
D. Pedro – Porque amei, amo e amarei
a mulher que aqui embarcou!
Anjo – Oh! Esta outra,…
Flor rara que a ti doou seu coração.
Ouvindo este diálogo, dirigiu-se o Diabo, ao batel do Paraíso, e diz:
Diabo – Ora, teu bondoso coração ardente!
Jamais tanto como aquela barca onde entrarás.
Nunca porás teu pé,
onde caminhou D. Inês.
Traíste tua esposa,
minha barca é a tua morte!
onde caminhou D. Inês.
Traíste tua esposa,
minha barca é a tua morte!
D. Pedro – Minha morte seria
se lá donde vim
continuasse iludido com o anel
já há muito perdido.
Aproximou-se o Diabo de D. Inês, como se seu coração parado quisesse arrancar, e olhando friamente para D. Pedro, diz desta maneira:
Diabo – Tua amada será minha
preciso da sua frescura
para apagar este fogo
e também minha amargura.
D. Pedro – Só por cima do meu cadáver!
Diabo – Morto estás tu
E neste rio, tua coroa não flutua;
apenas se afunda!
D. Pedro – Esta madeixa preciosa,
que comigo chegou aqui,
se a ti for oferecida
conseguirei entrar ali?
Diabo – Mas que bela madeixa de ouro
para na fogueira beijar;
Passa-ma cá, e lá acabarás!
D. Pedro – Eu ta dou de bom grado
já que um lugar
nessa barca ardente
me garantes por essa preciosidade.
Diabo – Passa-me esse bem
e com ele entrarás...
Com a madeixa na mão, o Diabo zarpa o seu batel e deixa D. Pedro no cais.
D. Pedro – Malvado Satanás!
Ficaste com o amor de meu amor
e minha recordação!
Diabo – Que esperavas?!
Tua Inês no Paraíso,
seu amor no meu coração,
não há lugar para ti
na barca da maldição!
Sem poder embarcar no batel do demo, D. Pedro dirige-se à barca da Glória.
Anjo – Porque voltas cá?
D. Pedro – O Maldito enganou-me,
roubou o que lá me fora doado,
perdi o coração da bela Inês,
a minha recordação
e nisto não fui embarcado.
Anjo – Para aqui entrar não serás convidado!
Pecaste, em vida,
amaste outra que não a tua.
Pecaste depois de morto,
ao tentar subornar o Outro.
Não tens lugar aqui.
Não há perdão para ti!
Sai já do meu batel,
fica com quem em nenhum lado tem lugar.
Pesem a vida depois da morte.
A eternidade é vossa...
Assim D. Pedro ficou a espiar os seus pecados no cais de embarque, aguardando uma próxima viagem.
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